IGREJA
Dom Reina: a Igreja de Roma pede mais confronto com as instituições
Antonella Palermo – Vatican News
É um povo romano que se reúne no coração do catolicismo, na Basílica de São João de Latrão, para buscar seiva, motivação, encorajamento recíproco, um magis para relançar a convivência cada vez mais complexa e desafiadora em uma metrópole sofrida. E o faz diante do Papa Francisco, o bispo de Roma, para apresentar-lhe as dificuldades e novas disponibilidades para agir pelo bem comum.
Dom Reina: criar oportunidades estáveis para o diálogo com as instituições
Dom Baldassarre Reina, vigário geral da diocese de Roma e nomeado na sexta-feira (25) arcebispo e arcipreste da basílica de São João de Latrão, introduz o encontro do Papa com a sua diocese, recordando suas raízes, em 1974, quando Paulo VI e seu vigário, o cardeal Poletti, promoveram a histórica conferência “A responsabilidade dos cristãos diante das expectativas de caridade e justiça na cidade de Roma”, mais conhecida como a conferência sobre os “Males de Roma”. O evento foi tão concorrido - 320 documentos das diferentes realidades romanas e 740 discursos - que, segundo Dom Reina, pode-se dizer que na ocasião “nasceu a Igreja local, pós-conciliar e contemporânea”. Cinquenta anos atrás, foi constatada a existência de mais de cem mil barracos nas periferias, uma taxa de mortalidade infantil igual à do Marrocos, uma cidade doente, motivo pelo qual o cardeal da época se perguntava e perguntava: “A Igreja tem algo a dizer à sociedade de hoje?”. É a mesma questão que em 2024 - coincidindo com o final da assembleia sinodal e dois meses antes do início do Jubileu - é colocada à coletividade em todas as suas articulações. “Gostaríamos de criar oportunidades estáveis de confronto e colaboração com as instituições”, espera Dom Reina. “Temos alguns males nesta cidade, é verdade, mas também temos muita coisa boa para compartilhar e espalhar”.
Roma é uma cidade que parece ter perdido a confiança, a alegria de viver
Para o jornalista Marco Damilano este encontro não é apenas para recordar, mas para renovar um compromisso. Assim especifica desde o início de seu discurso, oferecendo ao Papa um quadro social da cidade de Roma de grande eficácia e profecia, com as evidentes fraturas e desigualdades, mas também com contribuições para uma melhoria a ser compartilhada. Roma é uma cidade que parece ter perdido a confiança. A alegria de viver”, afirma Damilano. Crescem as ansiedades e os medos e, diante disso, a atitude recorrente é dupla e, de qualquer forma, não é uma expressão de esperança: pede-se “um poder verticalizado, guardião de existências fechadas em si mesmas”, ou abdica-se, negligencia-se. Roma, a cidade das pessoas solitárias (46% dos habitantes); a cidade rica e a cidade pobre; a cidade dos homens e a cidade das mulheres; dos idosos e dos jovens; a cidade dos sem-teto (mais de 20.000). É a cidade onde “a política entrou em colapso”, onde, diz Damilano, a “desertificação democrática” avança inexoravelmente, com os palácios de representação se tornando um mero “pano de fundo para um palco desabitado”. Nessa polarização, os migrantes e os pobres são frequentemente os bodes expiatórios. “A Igreja e a cidade permanecem sem o povo. O povo fica sem a Cidade e sem a Igreja": essa é a observação amarga do jornalista, um observador atento das dinâmicas sociopolíticas, mas também das eclesiais, tendo gasto muita energia desde sua juventude em um laicato comprometido em vários níveis.
Voluntariado “incômodo” nas periferias esquecidas
Para falar sobre as condições “indescritíveis” de decadência urbana e pobreza em dois bairros romanos, Tor Bella Monaca e Quarticciolo, apresentou-se o advogado Daniele Leppe, que colocou seu profissionalismo à disposição dos cidadãos das áreas populares que, com muita frequência, são esquecidos pelas instituições e só aparecem “durante as campanhas eleitorais”. O quadro apresentado é de mães solteiras, maridos na prisão, idosos com deficiência abandonados à própria sorte. Com a Associação “Quarticciolo rebelde”, formada por jovens que, depois de concluir a universidade, voltam ao bairro para tentar dar uma nova vida, a tentativa é construir uma alternativa possível: foram criados um centro pós-escola, um ambulatório social, uma cervejaria, uma gráfica, espaços para encontros com famílias em dificuldade. Eles são “sentinelas ativas que denunciam, sem desconto, suas deficiências”, continua Daniele, “são associações incômodas para problemas insustentáveis”. Seu discurso termina com uma confidência amarga: a maioria das intervenções, obras, para honrar o Jubileu não foram investidas na dignificação dos habitantes mais desafortunados, mas para tornar “mais confortáveis, bonitos e seguros os bairros ricos da cidade”.
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