IGREJA
Padre Ricardo Fontana: Reminiscências
Padre Ricardo Fontana - Reitor do Santuário Nossa Senhora de Caravaggio
Reminiscências: “A enchente de 1941. Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. Tínhamos assim um rio só para nós. Um rio de portas adentro. Que dias aqueles! E de noite não era preciso sonhar: pois não andava um barco de verdade assombrando os corredores?
Foi também a época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas...” Assim descreveu o poeta Mario Quintana, no livro “Sapato Florido”, em 1948. Na enchente de 1941 o nível do Rio Guaíba excedeu e atingiu 4m76cm.
As chuvas de maio de 2024, colocam nas lembranças (reminiscências) a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. O Rio Guaíba atingiu o nível de 5m33cm.
Na oração do Regina Coeli, domingo, cinco de maio, o Papa Francisco manifestou sua solidariedade com as vítimas das cheias que estão a atingir o Estado brasileiro do Rio Grande do Sul: “Asseguro a minha oração às populações do Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, atingidas por grandes inundações. Que o Senhor acolha os defuntos, conforte os familiares e os que tiveram de deixar as suas casas”. Do Papa e de outros mil chegam palavras, orações e gestos de solidariedade, Com as enchentes dos últimos dias a população do estado do Rio Grande do Sul vive um momento histórico difícil, mas de reconstrução. Choveu torrencialmente durante 15 dias, em vários lugares do estado, causando deslizamentos de terra e transbordamento de barragens e rios em muitos lugares, ocasionando mortes, a saída de pessoas de suas casas próximas a esses lugares, devido ao perigo eminente de desabamento de terras ou o aumento de volume das águas. A rotina da vida é bruscamente interrompida e modificada. Estes acontecimentos provocam o isolamento de muitas cidades e localidades do interior que formam a comunidade do nosso estado, ficando sem comunicação física ou virtual, as pessoas ficam sem notícias de seus familiares, os recursos econômicos ficam limitados, a saúde pública fica frágil diante da falta de recursos. Pessoas sobre os telhados de sua casa esperando o socorro, pessoas desaparecidas, pouco alimento, sem abrigo, necessidade de roupas e um lugar seguro para ficar. Precisa-se achar soluções rápidas e práticas.
Neste momento a solidariedade e a empatia entre as pessoas é uma atitude bem-vinda para os desabrigados da chuva que se torna um sinal de esperança a estas pessoas que perderam tudo neste tempo de chuvas. Neste momento precisamos nos colocar no lugar do irmão que sofre e ir ao seu encontro, para juntos, encontrarmos formas de proteger e reconstruir a vida que esta se ruindo pouco a pouco pelos fenômenos climáticos e naturais, consequencia da ação humana e pela falta de recursos apropriados que evitassem esta calamidade, que desde o ano passado estava anunciada com os ciclones extratropicais no mês de setembro que atingiu parte do estado gaúcho e que hoje atinge 444 municípios dos 497 que formam o Rio Grande. Precisamos trabalhar na criação de recursos que evitem novas enchentes, desabamentos de terra em nosso estado, o povo precisa de cuidados, de proteção para realizar seus projetos de vida de forma segura e feliz. É tempo de reconstrução, é tempo de unidade entre as pessoas, o pouco que podemos contribuir para o irmão necessitado faz a diferença, porque traz a esperança de um novo amanhã aos atingidos. A atenção, o carinho dado a estas pessoas aquece o coração enxarcado pelas lágrimas da perda de uma pessoa, da destruição de um imóvel, de um projeto de vida interrompido bruscamente. Hoje, muitas pessoas tristes e abatidas pela provação reagem, retomando suas vidas e trabalho, com o terço na mão, buscam na oração um sinal de esperança, fortalecem sua fé abalada, mas não destruída porque caíram de joelhos com os olhos fixos em Jesus. Apesar do trágico cenário que vivemos, a atitude de solidariedade e empatia entre as pessoas é presente e tem dado muita esperança as pessoas necessitadas. Fé!
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