sábado, 15 de junho de 2024

CABO VERDE: A LITERATURA COMO PONTE PARA ENTENDER O MUNDO

 MUNDO

Cabo Verde: a literatura como ponte para entender o mundo

O Festival Literatura-Mundo do Sal promoveu visitas às escolas da Ilha do Sal, em Cabo Verde, onde jovens interagiram com escritores e discutiram a importância da literatura. O evento também destacou debates sobre a obra de Amílcar Cabral e a inclusão literária na educação.

Thulio Fonseca - Ilha do Sal, Cabo Verde

 

Nas manhãs de sexta-feira e sábado (14 e 15/06) o alunos de três escolas diferentes da Ilha do Sal, participaram concretamente do Festival Literatura-Mundo do Sal. Na sexta, de modo especial, foram realizadas visitas às escolas, e os adolescentes e jovens tiveram a oportunidade de interagir com escritores, professores e jornalistas, participando de diálogos enriquecedores sobre diversos temas. Já neste sábado, os alunos recitaram poesias e expressaram seus gostos literários na Salinas de Pedra de Lume, Patrimônio Nacional de Cabo Verde.

A professora doutora em Letras, Rosângela Sarteschi, da Universidade de São Paulo (USP), destacou a relevância desses momentos: "É importantíssimo que escritores e estudiosos visitem as escolas, pois muitos alunos só têm contato com a literatura nesse ambiente. Esse contato desperta não só o desejo de ler, mas também de escrever. A literatura permite uma compreensão profunda das dinâmicas sociais e abre possibilidades de intervenção na sociedade."

Ouça a entrevista com a professora Rosângela Sarteschi:

A educação e a literatura

Rosângela também enfatizou que a escola desempenha um papel fundamental na formação de novos leitores, especialmente em contextos onde as famílias não têm recursos ou hábitos de leitura. A professora observou que "a literatura não é apenas sobre escritores mortos e distantes da realidade; é feita por pessoas comuns que enfrentam os mesmos desafios e vitórias do dia a dia. Esse contato com escritores vivos pode acender nos alunos o desejo de se tornarem leitores e escritores."

Durante o contato com os estudantes, foi evidente o entusiasmo e mutos expressaram um renovado interesse pela leitura e pela escrita. "Vários alunos me contaram que escrevem e se sentiram inspirados ao ouvir os escritores presentes", comentou Rosângela. "A literatura é uma forma de entender o mundo, compreender as forças de poder e encontrar nosso lugar na sociedade."

Momento de interação com os estudantes
Momento de interação com os estudantes

Reflexões sobre Amílcar Cabral, escritor e poeta

Também na sexta-feira, na parte da tarde, o ator Ângelo Torres apresentou um monólogo intitulado "Amílcar Geração", que emocionou os participantes ao refletir sobre a trajetória de Amílcar Cabral, um dos principais líderes da luta pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau. O festival continuou com discussões profundas sobre a literatura de Amílcar Cabral. Ana Paula Tavares e Madalena Neves participaram da mesa intitulada "Cabral Literário", moderada por Inocência Mata. Elas destacaram que a poesia de Cabral é uma parte vital da literatura mundial, com uma mensagem universal sobre amor, solidariedade e humanidade. "Cabral fez da palavra seu maior instrumento, e sua obra é real e atual, merecendo ser cada vez mais estudada e ouvida".

Ângelo Torres em: "Amílcar Geração"
Ângelo Torres em: "Amílcar Geração"

Cabral e a Condição Feminina

Outro destaque do dia foi a mesa "Cabral e a Condição Feminina", onde Margarida Rendeiro e Vera Duarte discutiram a implementação do legado de Cabral sobre a emancipação da mulher, equidade e igualdade de gênero. Moderada por Marinei Almeida, a mesa ressaltou a importância de continuar a luta pela igualdade, inspirando-se nos ensinamentos do escritor e político.

Homenagem a Luís Vaz de Camões

Na quinta-feira, 13 de junho, o festival também prestou uma homenagem aos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. Arménio Vieira, escritor cabo-verdiano e vencedor do Prêmio Camões, destacou a importância de Camões e sua obra "Os Lusíadas" para a cultura lusófona e global. Silvia Souza, representante da Embaixada de Portugal, reforçou a relevância contemporânea da obra de Camões e a inclusividade que a literatura promove.

Legado de Amílcar Cabral

O festival continuou com discussões sobre o legado de Amílcar Cabral, um pensador cujas ideias influenciaram movimentos de libertação em toda a África. Julião Soares Sousa e Marco Piazza participaram da mesa "Amílcar Cabral – Intelectual e Teórico", moderada por Luca Fazzini. Eles destacaram a importância de Cabral na descolonização cultural e mental, e como seus escritos ainda são relevantes para os desafios atuais.

Sousa compartilhou visões sobre as experiências de Cabral na Europa e na África, ressaltando como essas vivências fortaleceram seu nacionalismo anticolonialista. Ele destacou a influência literária e poética na formação da identidade africana promovida por Cabral, o que fomentou a solidariedade nas lutas de libertação.

Mesa de diálogo durante o festival
Mesa de diálogo durante o festival

Novas Perspectivas Literárias

A mesa "Novas Tipologias, Outros Protótipos Textuais e os Cânones Literários", moderada por Rosângela Sarteschi, discutiu a relação entre os cânones literários e a escrita não tradicional. Adriana Brandão, Ana Paula Tavares, Jorge Carlos Fonseca e Patrick Straumann exploraram como esses novos protótipos textuais estão redefinindo a literatura contemporânea. Sarteschi destacou a importância de uma educação literária diversificada, mencionando a lei brasileira que promove a inclusão de literatura africana e afro-brasileira nos currículos escolares.

Educação Literária e Inclusão

O evento também abordou a importância da inclusão literária e a diversidade na educação. Rosângela Sarteschi falou sobre a lei brasileira aprovada em 2003, que integrou temas africanos e afro-brasileiros no currículo escolar. "Essa política foi resultado de uma longa luta dos movimentos sociais, especialmente os movimentos negros. A inclusão desses temas nas disciplinas tradicionais promove uma educação mais plural e diversificada, refletindo a verdadeira multiculturalidade da sociedade."

Ela acrescentou que, apesar dos progressos, ainda há um longo caminho a percorrer. "Estamos longe do ideal, mas devemos comemorar as conquistas. Hoje, já vemos novas vozes literárias africanas e afro-brasileiras sendo incluídas nos currículos e nos exames de entrada nas universidades."

O Festival Literatura-Mundo do Sal tem sido um evento transformador, celebrando a literatura como uma ferramenta poderosa de diálogo e transformação social, conectando jovens, educadores e escritores em um intercâmbio vibrante de ideias e inspiração.

Festival Literatura-Mundo do Sal 2024
Festival Literatura-Mundo do Sal 2024

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15 junho 2024, 14:48
FONTE: Thulio Fonseca - Ilha do Sal, Cabo Verde

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