sexta-feira, 3 de maio de 2024

FRANCISCO EM TRIESTE: ENCONTRO COM MIGRANTES E PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

 PAPA

Francisco em Trieste: encontro com migrantes e portadores de necessidades especiais

Dom Enrico Trevisi anunciou o programa da visita do Papa à capital da região italiana de Friuli-Venezia Giulia em 7 de julho, por ocasião da Semana social dos católicos na Itália. O secretário geral da Conferência Episcopal Italiana, dom Baturi, havia anunciado a viagem em janeiro passado.

Adriana Masotti - Cidade do Vaticano

O anúncio de alguns detalhes do programa da visita do Papa Francisco a Trieste, em 7 de julho, foi divulgado hoje, 03 de maio, por ocasião da apresentação da 50ª Semana social dos católicos na Itália, que será realizada de 3 a 7 de julho na capital da região italiana de Friuli Venezia Giulia e terá como tema: "No coração da democracia. Participar entre a história e o futuro".

Papa Francisco em Trieste no dia 7 de julho

De acordo com informações do bispo, dom Enrico Trevisi, Francisco chegará de helicóptero ao Centro de Convenções Gerais, em Trieste, próximo ao Porto Vecchio, às 8h (hora local), e será recebido pelas autoridades civis e religiosas, incluindo o presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Matteo Maria Zuppi. Em seguida, haverá um encontro entre Francisco e os participantes da Semana social e, depois, uma reunião com representantes de outras igrejas cristãs e religiões presentes na cidade e do mundo acadêmico, bem como com um grupo de migrantes e portadores de necessidades especiais. No final, o Papa, a bordo de um carro aberto, irá à Praça Unidade para a celebração da missa e a recitação do Angelus. A partida do cais de Audace para o retorno ao Vaticano está prevista para 12h30.

O presidente Mattarella abrirá os trabalhos

O congresso anual dos católicos na Itália será encerrado com a presença do Papa. Porém, será o discurso do Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, no dia 3 de julho, que abrirá os trabalhos. O tema central da Semana, para a qual são esperados mais de mil delegados, é o da participação dos cidadãos na vida democrática, com a apresentação de "boas práticas" e incluirá palestras, workshops e eventos promovidos também em várias praças da cidade. Segundo o secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana, dom Giuseppe Baturi, que havia anunciado a visita do Papa em janeiro, a presença de Francisco e do presidente Mattarella "destaca a importância que o encontro de Trieste tem para a vida de todo o país", no qual se pretende oferecer "a contribuição dos católicos para responder aos desafios que a Itália, a Europa e o mundo são chamados a enfrentar".

O fluxo migratório dos Bálcãs

"Não podemos falar de participação, democracia, bem comum e depois nos esquecermos das pessoas frágeis", disse dom Trevisi na manhã desta sexta-feira, durante uma coletiva de imprensa. "A maturidade de uma democracia também depende de como as pessoas frágeis são acolhidas e integradas". Referindo-se à situação local, o bispo explicou que Trieste está na rota dos Bálcãs e que a imigração "é um tema que sabemos que é desafiador e complexo, e o Papa nos chama a sermos capazes de uma acolhida digna". O prelado então mencionou a estrutura dilapidada, sem instalações sanitárias, água e eletricidade, localizada perto da estação de trem da cidade, onde muitos migrantes encontraram refúgio por algum tempo e que, de acordo com Trevisi, representa "uma situação indigna" para a qual, disse ele, "esperamos uma solução".

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03 maio 2024, 17:10
FONTE: Adriana Masotti - Cidade do Vaticano

PAPA ENCONTRA 100 SACERDOTES DA REGIÃO CENTRAL DE ROMA

 PAPA

Papa encontra 100 sacerdotes da região central de Roma

Na histórica Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, às 16 horas, Francisco se reuniu "a portas fechadas" com párocos, vice-párocos e reitores da região central de Roma. Essa é a última das visitas que o Pontífice fez aos diferentes setores de sua diocese, iniciadas em setembro passado.

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

Francisco chegou às 16h à histórica basílica romana de Santa Cruz em Jerusalém, no bairro Esquilino, região central da cidade, para se reunir com 100 párocos, vice-párocos e reitores do setor central da Diocese de Roma, que compreende 38 paroquias.

Um pequeno grupo de fiéis aguardava a chegada do Pontífice para saudá-lo quando seu carro se aproximou do local do encontro. A reunião, realizada em uma das salas adjacentes à basílica, ocorreu "a portas fechadas". Entre os presentes para receber Francisco, encontrava-se o monsenhor Francesco Pesce, pároco de Santa Maria em Monti e coordenador pastoral do setor.

Diálogo do Papa com os sacerdotes do setor central de Roma
Diálogo do Papa com os sacerdotes do setor central de Roma

Perguntas e respostas sobre temas relacionados à atividade pastoral

Um diálogo com duração de cerca de duas horas, precedido por uma breve saudação do vice-regente, o bispo Baldo Reina, e pela recitação de um salmo, e depois pontuado por perguntas e respostas sobre diversos temas que, de uma forma ou de outra, dizem respeito à atividade pastoral, com foco no cuidado com as crianças e especialmente com os idosos, que são a sabedoria e não devem ser descartados, mas valorizados, e também no trabalho com os grupos mais frágeis da sociedade, incluindo os migrantes e os sem-teto que circulam em uma área nada fácil como a estação Termini de Roma. Inevitavelmente, houve uma menção ao próximo Jubileu e à recepção de peregrinos vindos de todo o mundo.

A "maravilhosa cumplicidade" das igrejas do centro de Roma

Os sacerdotes "pastores" recebidos pelo Papa, foram acolhidos pelo jovem pároco, padre Alessandro Pugiotto, da Basílica de Santa Cruz em Jerusalém.

No entanto, foi monsenhor Francesco Pesce que conduziu o diálogo com o Papa, no qual os sacerdotes "tentaram contar ao Santo Padre, usando as palavras da Amoris Laetitia, sobre a 'maravilhosa cumplicidade' dessa parte da Igreja de Roma, onde o mundo inteiro está representado e que será a porta de entrada para o Jubileu". "A emoção desse encontro se transformou imediatamente em gratidão e oração pelo Papa", acrescentou mons. Pesce. "Foi um grande momento de comunhão, um trecho do caminho percorrido lado a lado que nos dá um novo impulso para o nosso serviço não só aos católicos do centro histórico, mas ao mundo inteiro, que encontramos aqui todos os dias nos rostos dos turistas e peregrinos. Não há muitos moradores no centro histórico, "mas a maioria dos romanos vem até aqui para trabalhar", explica o coordenador pastoral. "Embora não haja muitos jovens em nossas paróquias, à noite os jovens de Roma estão todos no centro histórico".

Papa Francisco respondeu às perguntas dos sacerdotes
Papa Francisco respondeu às perguntas dos sacerdotes

Olhar voltado para o futuro e para o Jubileu de 2025

O bispo Reina descreveu como um "encontro muito cordial", no qual "o Papa expressou toda a sua paternidade para com os sacerdotes, mas também sua distinção pastoral. Ele foi um pastor que contou sua experiência, deu conselhos muito úteis para a situação pastoral no centro histórico. Os padres ficaram todos muito felizes". Isso também foi confirmado pelo pároco, padre Alessandro, ao explicar que, com o Pontífice, eles "falaram sobre o potencial das igrejas do centro histórico, não sobre os problemas, com um olhar para o futuro, para o Jubileu, para acolher os peregrinos, para acolher os romanos que vêm aqui para trabalhar... O potencial das igrejas do centro, que não estão mortas, mas vivas e vivas". "Foi realmente um belo encontro", observou o pároco, "no qual o Papa nos ajudou muito a ver o positivo, o belo".

Última reunião nos setores da diocese de Roma

No final do encontro, Francisco cumprimentou os sacerdotes presentes, um a um. Fotografias, apertos de mão e a entrega de alguns pequenos presentes concluíram a reunião.

O encontro desta sexta-feira, 03 de maio, é o último da série de visitas que o Papa fez aos cinco setores da diocese da qual é bispo, percorrendo de setembro a abril os bairros de Primavalle, Villa Verde, Acilia e Casal Monastero. Visitas durante as quais Francisco se encontrou com os párocos das 36 circunscrições para um livre diálogo de perguntas e respostas, a fim de conhecer as realidades que animam a sua diocese. Algo que, como o próprio Papa disse em várias ocasiões, "sempre faz muito bem a um bispo".

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03 maio 2024, 18:00
FONTE: Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

MINISTRO DE MINAS E ENERGIA DO BRASIL COM O PAPA: TRANSIÇÃO ENERGÉTICA JUSTA E INCLUSIVA NA PAUTA

 VATICANO

Ministro de Minas e Energia do Brasil com o Papa: transição energética justa e inclusiva na pauta

Alexandre Silveira de Oliveira esteve no Vaticano nesta sexta-feira (3) para uma audiência com o Papa. O ministro apresentou a Francisco as políticas públicas implementadas nos últimos anos no Brasil que também irão a debate no G20 e na COP30: "tanto de transição, quanto de combate à pobreza energética, como, por exemplo, o programa 'Luz para Todos' que ele elogiou com tanta veemência. Ele repetiu muitas vezes: gosto muito de ouvir quando se trata de política que destaca que é para todos."
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Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco, entre a série de audiências na manhã desta sexta-feira (3), recebeu no Vaticano o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira de Oliveira. Em entrevista a Silvonei José, disse ter explicado ao Pontífice sobre as políticas públicas implementadas no país - que tem 88% de energia limpa e renovável no setor elétrico. Segundo o ministro, são políticas que têm garantido ao país a liderança da transição energética global tanto no setor elétrico como no de biocombustível, fundamentais para reduzir a emissão de gás carbônico. 

Uma preocupação mundial que será debatida no Brasil que irá sediar tanto o G20, em novembro deste ano no Rio de Janeiro-RJ, como a COP30, em novembro de 2025 em Belém-PA. Será também uma oportunidade para apresentar as experiências bem-sucedidas no país para uma transição energética justa e inclusiva, "para proteger e salvaguardar o planeta dos efeitos danosos à toda a sociedade e que atinge as pessoas mais vulneráveis", disse o ministro.

Programa 'Luz para Todos' chega ao Papa

Além disso, Alexandre Silveira de Oliveira comentou que o Papa demonstrou entusiasmo com o Programa Nacional 'Luz para Todos', destinado a fornecer atendimento com energia elétrica à população do meio rural e aos residentes de regiões remotas da Amazônia Legal que ainda não possuem acesso ao serviço público de distribuição de luz. Segundo a agência de notícias epbr, só no primeiro trimestre deste ano o programa beneficiou 39 mil pessoas. A expectativa do governo é atender 500 mil famílias até o fim de 2026.

"Falar um pouco sobre transição energética, essa mudança de matriz para salvaguardar o planeta e conter os efeitos climáticos, mas, fundamentalmente como uma grande oportunidade econômica de fazermos uma transição energética justa, inclusiva e obrigatória, respeitando as matrizes energéticas do mundo, mas potencializando em especial as matrizes e os povos que já colaboraram pelas suas potencialidades naturais, mas também pelas políticas públicas implementadas nos últimos anos tanto de transição, quanto de combate à pobreza energética, como, por exemplo, esse programa que (o Papa) elogiou com tanta veemência que é o programa 'Luz para Todos'. E ele repetiu muitas vezes: gosto muito de ouvir quando se trata de política que destaca que é para todos."

O momento em que o ministro presenteou o Papa com a excelência da cultura mineira
O momento em que o ministro presenteou o Papa com a excelência da cultura mineira

O ministro presenteou o Papa com duas camisetas: uma do Atlético Mineiro personalizada com o nome de Francisco e outra da "Aliança Global contra a Fome e a Pobreza"; além do tradicional café mineiro e de uma obra de Aleijadinho (1738-1814), uma réplica das igrejas mineiras de Ouro Preto. "Eu disse para ele que o meu Estado, Minas Gerais, concorre com a Bahia com as igrejas mais bonitas do Brasil", comentou o ministro. A delegação que teve audiência com o Papa ainda era formada pelo embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Everton Vieira Vargas, e pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

A delegação brasileira com o Papa: o ministro, o embaixador Everton Vieira Vargas e o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
A delegação brasileira com o Papa: o ministro, o embaixador Everton Vieira Vargas e o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

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03 maio 2024, 11:23
FONTE: Andressa Collet - Vatican News



PIZZABALL: "UMA PAZ VERDADEIRA E DURADOURA LEVARÁ MUITO TEMPO"

 IGREJA

Pizzaballa: “uma paz verdadeira e duradoura levará muito tempo”

Na Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma lectio magistralis do patriarca de Jerusalém: "devemos trabalhar por um cessar-fogo como um primeiro passo em direção a outras perspectivas políticas que, no entanto, devem ser construídas". O cardeal falou da fraqueza da comunidade internacional e exortou as religiões a não "jogar gasolina no fogo".

Antonella Palermo – Vatican News

No dia seguinte à tomada de posse da paróquia de Sant'Onofrio, em Roma, o patriarca de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, proferiu uma lectio magistralis organizada pela Pontifícia Universidade Lateranense sobre o tema "Caracteres e critérios para uma pastoral da paz", um encontro que também foi particularmente emotivo por causa da afiliação do Instituto de Estudos Teológicos do Patriarcado Latino de Jerusalém com a Faculdade de Teologia da PUL, um vínculo entre Roma e Jerusalém de "importância fundamental para a Igreja de hoje", observou o patriarca.

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À margem de seu discurso articulado, fazendo uma pausa para alguns momentos com os jornalistas, ele ressaltou que "uma paz verdadeira e duradoura levará muito tempo. Agora temos que trabalhar por um cessar-fogo como um primeiro passo para outras perspectivas políticas, mas todas elas devem ser construídas, estão um pouco no ar". Ele também reiterou que "é muito difícil identificar caminhos e perspectivas enquanto o conflito estiver em andamento". Apoiou a necessidade da libertação dos reféns israelenses e de pelo menos alguns prisioneiros palestinos e "então veremos". Os cristãos, acrescentou, podem criar espaços onde organizações, instituições, políticos e religiosos possam se reunir. E a Igreja está comprometida com a criação de locais e contextos facilitadores. Esse aspecto foi o centro do discurso diante de uma assembleia de estudantes, clérigos, operadores, homens e mulheres comprometidos com a paz. O padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, também estava entre os presentes.

A Terra Santa sangra, a paz se pede com humildade

"O que está ocorrendo na Terra Santa é uma tragédia sem precedentes", iniciou Pizzaballa. "Além da gravidade do contexto militar e político, que está se deteriorando cada vez mais, o contexto religioso e social também está se deteriorando", observa. "O sulco da divisão entre as comunidades, os poucos mas importantes contextos de convivência inter-religiosa e civil estão se desintegrando pouco a pouco, com uma atitude de desconfiança que cresce a cada dia. Um panorama desolador". O cardeal explica que não faltam elementos de esperança, mas que é preciso "reconhecer realisticamente que essas são realidades de nicho e que o quadro geral continua muito preocupante".

O termo paz "parece ser hoje uma palavra distante e utópica, vazia de conteúdo, se não objeto de uma instrumentalização sem fim", enfatiza Pizzaballa. Tanto em hebraico quanto em árabe, o termo expressa "plenitude de vida", uma abordagem integral. "Não é, portanto, apenas uma construção humana ou um objetivo da convivência humana, mas uma realidade que vem de Deus e do relacionamento com ele". Aquele que evangeliza, lembra o cardeal, anuncia a paz até mesmo aos inimigos, assim como Pedro fez com Cornélio, que era centurião das forças militares que ocupavam sua terra. Pizzaballa se detém em um traço que deve caracterizar aqueles que pedem a paz: "ter consciência da própria fraqueza": se não se vai mancando em direção ao outro, insiste, corre-se o risco de abrir constantes cenários de guerra, porque "o outro não é mais um outro eu, mas um inimigo, a ser temido ou eliminado".

Cardeal Pierbattista Pizzaballa
Cardeal Pierbattista Pizzaballa

Pela paz estar dispostos a morrer, como Jesus

Pizzaballa esclarece o que não é paz: "não é apenas convenção social, armistício, mera trégua ou ausência de guerra, resultado de esforços diplomáticos e equilíbrios geopolíticos globais ou locais, que na Terra Santa infelizmente estão se rompendo!". Ele descreve os contornos da paz, que são muito mais amplos, e cita Santo Agostinho, porque "ela se baseia na verdade da pessoa humana. É necessário voltar a colocar o homem no centro, voltar ao rosto do outro, à centralidade da pessoa humana e à sua dignidade sem igual". "Quando o rosto do outro desaparece", ressalta, "desaparece também o rosto de Deus e, portanto, a verdadeira paz". E conclui: "para a paz é preciso arriscar, sempre. É preciso estar disposto a perder a honra, a morrer como Jesus".

Admitindo que a paz na Terra Santa será sempre um “trabalho em andamento”, o Patriarca lembra que para a "Igreja da Terra Santa, inserida no contexto de uma sociedade multirreligiosa e multicultural, rica em muitas diversidades, mas também em divisões, a 'paz de Jerusalém', da qual fala o Salmo 121, não é a supressão das diferenças, a anulação das distâncias, mas também não é uma trégua ou um pacto de não-beligerância garantido por pactos e muros". Pizzaballa está convencido de que a comunidade é chamada a ser "uma estrada aberta na qual o medo e a suspeita dão lugar ao conhecimento, ao encontro e à confiança, onde as diferenças são oportunidades de companheirismo e colaboração e não um pretexto para a guerra".

Testemunhas honestas e confiáveis, não uma questão trivial

"Cada vez mais teremos que nos afastar da preocupação em ocupar estruturas físicas e institucionais, para nos concentrarmos mais na bela e boa dinâmica da vida que, como crentes, podemos iniciar", argumenta ainda o Cardeal Pizzaballa. "Em um contexto social e político em que a opressão, o fechamento e a violência parecem ser a única palavra possível, continuaremos a afirmar o caminho do encontro e do respeito mútuo como a única saída capaz de levar à paz". Ele acrescentou: "A paz precisa do testemunho de gestos claros e fortes de todos os crentes, mas também precisa ser anunciada e defendida por palavras igualmente claras”.

Evitar entrar em uma lógica de competição e divisão: essa é a principal recomendação do Patriarca. "Nosso estar na Terra Santa como crentes não pode se encerrar em um intimismo devocional, nem pode se limitar apenas ao serviço de caridade para os mais pobres, mas também é “paresia”. E ele insiste que a opção preferencial pelos pobres e fracos, no entanto, não deve se transformar em um partido político.

A liderança religiosa se torna uma voz livre e profética

Em seu discurso, Pizzaballa cham em causa a responsabilidade da liderança religiosa, especialmente no Oriente Médio, que, segundo ele, é essencial. Aponta algumas prioridades: a liderança religiosa deve, argumenta o cardeal, antes de tudo, cooperar com a melhor parte da sociedade na criação de uma nova cultura de legalidade e se tornar uma voz livre e profética de justiça, direitos humanos e paz. Considerando que nunca se pode ser complacente, especialmente no contexto da Terra Santa, Pizzaballa retorna à importante função pública da religião. "Não raro, a política nacional e a religião se encontram hoje no banco dos réus, acusadas do mal de hoje, ou de incapacidade, de atraso, e assim por diante", enfatiza, ressaltando que a fé religiosa desempenha um papel fundamental para repensar as categorias de história, memória, culpa, justiça, perdão. "Os conflitos interculturais não serão superados a menos que as leituras diferentes e antitéticas de suas próprias histórias religiosas, culturais e de identidade sejam relidas e redimidas. As feridas causadas no passado distante e recente, bem como as de hoje, se não forem curadas, assumidas, processadas, compartilhadas, continuarão a produzir dor mesmo depois de anos ou até séculos".

As religiões não devem ser gasolina jogada no fogo

O cardeal pede a cooperação de outras Igrejas e comunidades religiosas, alertando que, se as religiões se tornarem funcionais para a luta política, como frequentemente acontece na Terra Santa, "elas se tornam como gasolina jogada no fogo". Ele enfatiza o valor do diálogo inter-religioso que, se for autêntico, cria uma mentalidade de paz. Em seguida, lamenta que "nunca mais será a mesma coisa, pelo menos entre cristãos, muçulmanos e judeus". E dá alguns exemplos: "o mundo judeu não se sentiu apoiado pelos cristãos e expressou isso claramente. Os cristãos, por sua vez, divididos como sempre em tudo, incapazes de uma palavra comum, estavam divididos no apoio a um lado ou a outro, ou incertos e desorientados. Os muçulmanos se sentem atacados e considerados coniventes com os massacres cometidos em 7 de outubro... Em resumo, depois de anos de diálogo inter-religioso, descobrimos que não estamos nos entendendo. Para mim, pessoalmente, é uma grande tristeza, mas também uma grande lição".

Participantes da lectio magistralis do patriarca de Jerusalém
Participantes da lectio magistralis do patriarca de 
Jerusalém

Purificar a memória, a paz está ligada ao perdão

A paz e o perdão estão intimamente ligados. Não se pode ter tudo imediatamente: "a reflexão sobre o perdão leva muito tempo". E ele enfatiza que "as feridas coletivas, a dor de todos, devem ser levadas em conta". Purificar a memória é fundamental: "Enquanto não houver uma releitura das relações históricas de cada um, as feridas do passado continuarão a ser uma bagagem a ser carregada nos ombros e um critério de leitura das relações mútuas". Nessa perspectiva, é necessária uma verdadeira formação cultural em todas as esferas. Dessa forma, a dinâmica da vida pode ser reativada. A esse respeito, Pizzaballa observa que "todos os acordos de paz na Terra Santa até agora fracassaram de fato, porque muitas vezes eram acordos teóricos, que presumiam resolver anos de tragédia sem levar em conta a enorme carga de feridas, dor, ressentimento, raiva que ainda ardiam e que nos últimos meses explodiram de forma extremamente violenta. Além disso, não foi levado em conta o contexto cultural e, principalmente, religioso, que, em vez disso, falava uma linguagem exatamente oposta (a começar pelos líderes religiosos locais) àquela daqueles que falavam de paz".

O perdão nunca está separado da verdade e da justiça

Pizzaballa é lacônico em um ponto crucial: "o perdão não pode ser separado de duas outras palavras: verdade e justiça". Ele acrescenta que nenhuma ideologia pode mantê-las unidas, mas somente o amor. E lembra que há décadas, na Terra Santa, existe a ocupação israelense dos territórios da Cisjordânia, "com todas as suas dramáticas consequências na vida dos palestinos e também dos israelenses". Ele fala da injustiça como a primeira e mais visível consequência dessa situação política. Fala do não reconhecimento dos direitos básicos, do sofrimento em que vive a população palestina na Cisjordânia. "É uma situação objetiva de injustiça".

"Manter a comunhão entre católicos palestinos e israelenses, nesse contexto dividido e polarizado, é mais difícil do que nunca", observa o cardeal, que constantemente se refere à sua experiência pessoal no local, olhando os rostos e os escombros. Há uma maneira cristã de estar dentro de um conflito, diz ele, lembrando uma carta enviada à diocese há alguns meses, na qual há um convite para ter coragem de fazer justiça. Ele invoca uma linguagem criativa que dá vida, cria perspectivas, abre horizontes. Em suma, Pizzaballa pede "uma pastoral eclesial que saiba colocar esses três elementos em contínuo, difícil, doloroso, complexo e fadigoso diálogo entre eles".

A crise dos organismos multilaterais

Concluindo, o Patriarca de Jerusalém expressa com tristeza que na Terra Santa há uma "crescente crise dos organismos multilaterais, como a ONU, que está cada vez mais impotente e, para muitos, refém das grandes potências (basta pensar nos vários poderes de veto). A comunidade internacional está cada vez mais fraca, assim como os vários outros organismos internacionais". Seu longo discurso na Lateranense termina com uma denúncia da falta de "referências políticas e sociais capazes de fazer gestos no território que gerem confiança, capazes de escolhas corajosas pela paz, de negociar reconciliações, de aceitar os compromissos necessários". Por fim, adverte contra a tentação fácil de os agentes pastorais tomarem o lugar desses organismos, embora as pressões sejam cada vez mais insistentes. O trabalho pastoral pela paz, conclui ele, tem apenas o Evangelho como referência.

Cristãos em Gaza: situação complexa, mas eles estão se mantendo vivos

No espaço dedicado ao debate na Sala Paulo VI do Pontifício Ateneu, o cardeal pôde então descrever brevemente a condição dos refugiados em Gaza e atualizar o número daqueles que estão atualmente nas paróquias cristãs: 462 pessoas na paróquia latina e 208 na ortodoxa. "Em comparação com os primeiros meses da guerra, a situação está mais calma", conta o Patriarca, "os alimentos estão começando a chegar, em sua maioria comprados no mercado negro, mas pelo menos estão lá. Todos eles tomaram casas, as doenças estão se espalhando, há falta de medicamentos. A situação é muito complexa, mas eles estão se mantendo vivos, estão bem. O Papa está muito presente, tanto com ligações telefônicas quanto com apoio em ajuda".

"Eles querem que todos nós nos alistemos", confidenciou novamente Sua Beatitude, destacando a condição nada fácil mesmo como representantes da Igreja. "Neste momento, não é muito fácil sermos pessoas que querem ser construtivas. Digo isso com dor porque as pessoas que dizem isso partem de uma dor real que elas têm e que deve ser respeitada". Ele insiste novamente na necessidade de superar a tentação de querer ver o resultado de sua ação, por mais nobre que seja. "Não é o resultado, não é o sucesso que deve guiar o compromisso de uma pessoa, mas o desejo que surge de uma convicção pessoal, de uma experiência de fé que, por sua vez, se origina de ir ao encontro do outro, do amor". Instigado por uma pergunta sobre o comércio internacional de armas, ele conclui que a denúncia é necessária, "mas deve ser feita de forma inteligente, evitando slogans fáceis, criando, em vez disso, redes, relações de opiniões" para que a intenção do desarmamento seja "verdadeiramente significativa".

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03 maio 2024, 10:03
FONTE: Antonella Palermo – Vatican News